(Sávio)
“O que aconteceu, pai?”
“Essa mulher está morta”, é o que Marcos responde para a pergunta
de Milena.
Ele está trêmulo e com a face
pálida. Mal paro para prestar atenção a ninguém, mas provavelmente todos estão
com uma feição igualmente aterrorizada. Dana, a madrasta de Milena, está meio
que abrigada às suas filhas Laura e Isabela, entre consternação e espanto. Eu
mesmo não sei o que pensar diante da cena. Rita Lina desacordada nos braços do
pai de Milena e, pelo que dá pra ver, sem respirar. Ela está realmente morta.
Sem falar que, lá fora, dentro do
meu carro, Anna está esperando por mim, completamente alheia ao que está
acontecendo no interior da casa.
Não consigo dormir. Hoje a
insônia veio como a pior das visitas indesejadas, do tipo que não adiantaria
nem mesmo colocar uma vassoura atrás da porta. Uma crença popular bem estúpida,
eu sei, mas serve para ilustrar. Se eu sequer cogitar em me levantar para fazer
isso, a insônia vai rir e muito da minha cara, por não apenas estar
dificultando meu sono, mas por também me fazer sair da cama. Esse é um dos
estágios críticos de quando não se consegue dormir, resultante de todo um
fracasso em lutar para esperar que o sono chegue. Ah, se essas divagações
inúteis me fizessem adormecer...
Amanhã será velado o corpo da
Rita Lina. Amanhã, também, ela descerá à cova. As coisas não poderiam terminar
mais sinistras. Teve o lance com a Milena, o surto que ela deu quando eu contei
que Anna e eu tínhamos decidido tentar resgatar o relacionamento de anos atrás.
Teve o reencontro com Tatiana, que até agora eu não saquei o porquê de ela
aparecer bem na hora da confusão em frente à casa da minha sócia/amiga, depois
de tanto tempo que eu não tinha contato com ela. Tem o namorado da Milena, o
Ivan Castro, um sujeito com um comportamento estranho e suspeito. E teve a Rita
Lina batendo as botas, cujo motivo eu também desconheço. Há tantas coisas
confusas. Sinto que seria mais fácil fazer uma criança de três anos entender
todos os pormenores da trilogia Matrix
do que os nós da minha mente se desfazerem. E olha que nem eu entendo Matrix muito bem...
A insônia esta noite é
onipresente. Duvido que algum dos envolvidos nessa situação caótica esteja
dormindo. Exceto Rita Lina, cujo sono durará para sempre. Droga! Droga! Que
babaca, Sávio!! Eu tenho o péssimo hábito de fazer piadas inconvenientes em
momentos de agonia.
Acordo com o telefone tocando
estridentemente. É Milena, pedindo para que eu cuide de um caso que estava
pendente há alguns dias e cuja cliente é uma endinheirada que está pressionando
a agência. Mile alega que não pode cuidar porque está ajudando os pais com a
coisa da viagem e que também está se resolvendo com a família de Rita Lina,
esclarecendo coisas a respeito da noite de ontem. Ela também me disse que vai
estar disponível para ajudar no que for preciso com os preparativos do funeral.
Em resumo, também me informa que os médicos disseram que Rita teve uma parada
cardíaca fulminante, e essa foi a causa de sua morte, um golpe silencioso e
certeiro. Toda essa conversa durou menos de um minuto e, da minha parte, só
houve uns balbucios de confirmação, tentando me localizar no tempo. Embora eu
ainda esteja despertando, pude sacar claramente que Milena foi muito fria
comigo na ligação. Ela certamente ainda está chateada pelo que eu contei ontem.
Mas eu mal tive tempo de explicar...
O jeito é ver se as coisas se
arrumam e esperar uma situação mais favorável.
São oito da manhã. Lembro
perfeitamente que eu ainda estava acordado por volta das cinco. Devo ter dormido
por umas três horas ou pouco menos. Estranhamente, não estou sentindo aquele
desconforto provocado pela privação de sono.
“Tá com uma cara péssima”, é o bom-dia da minha mãe.
“Dormi mal, mãe”.
“Deve ser a alimentação. Alimentação influencia em tudo, sabia?”
“Sabia”, respondo, contemplando os itens do café da manhã. “Mas a senhora nem mesmo quer saber o
verdadeiro porquê?”
“Ué, eu já não disse?”
Dirijo a ela meu polegar erguido,
porque pelo visto não vai rolar uma explicação da minha parte. Acho que as
mulheres mais próximas de mim estão em algum complô que me impeça de justificar
os meus atos ou o que acontece comigo.
“Cadê a Rapunzel?”
“Já foi pra faculdade. Já passa das oito, você sabe, né?”
“Sei...”
“E pare de chamar o Dominique de Rapunzel. Você sabe que ele odeia. E
eu também acho que já deu”.
“Eu já falei pra ele que vou parar... assim que ele me jogar as benditas
tranças de mel”.
Mamãe não resiste, perde o
controle e ri.
“Você me pegou desprevenida com essa piada, seu engraçadinho. Não diga
pra ele que eu ri, senão eu te acerto depois, tá entendendo?”
“Ameaça registrada com sucesso, dona Lola”.
“Quando acabar, por favor, retira a mesa do café, tá bom? Eu tenho
coisas pra fazer. Vai ter uma promoção ótima de enfeites de natal e eu não
posso perder. Você acredita que tem até um presépio em 3D?”
Outra vez ergo o polegar em sinal
de positivo, passando manteiga numa fatia de pão de fôrma. Mas minha mãe nem
vê, porque aparentemente aquilo não foi um pedido, mas uma ordem. E ordens de
mãe geralmente dispensam a confirmação dos filhos.
Começo a pensar no que há de
empolgante numa promoção de enfeites de natal e como é a aparência de um
presépio em 3D. A verdade é que faço isso pra tentar me distrair dos
pensamentos sobre a noite passada, mas falho miseravelmente. Esse mal-estar
entre Milena e eu realmente me afeta, muito mais do que quaisquer outras vezes
em que tenha ocorrido. Mas ela precisa ouvir o que eu tenho a dizer sobre a
Anna.
Falando em Anna, há duas
mensagens dela no WhatsApp. Uma
perguntando como eu estou e outra dizendo que me ama. Me pego pensando: Qual é
o tanto de verdade nisso? Tipo, a gente decidiu esses dias que reataria um
namoro que acabou há séculos e ela já diz que me ama? Que tipo de “eu te amo” é
esse? Só faz sentido na minha cabeça se o suposto amor que ela declara na
mensagem for um amor que jamais fora interrompido, que persiste desde aquela
época. É muito insensível da minha parte? Ou apenas racional?
Eu respondo que estou legal,
incremento com emojis felizes,
coraçõezinhos, tudo de maneira muito sóbria e moderada. Eu não a amo ainda, pelo menos não nessa versão
2.0 do nosso romance, já que eu passei pelo desapaixonamento, eu a esqueci, eu
a superei. Eu estou redescobrindo meus sentimentos. E me incomoda muito mentir
com mensagens que não expressem realmente o que tá rolando comigo. Portanto,
Anna Munhoz, desculpe-me, mas eu prefiro ir com calma.
Aurora Souto é a cliente da vez,
mas o encontro não será na sede da ANNA. Ela fez questão de me receber no
prédio de sua empresa, no centro da cidade. O lugar tem uns cinco andares e sua
especialidade é gerenciar a segurança de outras empresas. Coisa fina de alta
tecnologia e que me gusta mucho. Só
não vejo a razão de ela precisar de cinco andares para isso. Hackers mundo afora podem destruir um
país inteiro de dentro de uma garagem cheia de mofo e um computador que
contenha os programas certos.
Estudei direitinho a ficha de
Aurora. Ela é uma mulher negra, de estatura média, 39 anos, que foi a grande
vencedora de um reality show chamado
“Tá pouco ou quer mais?” em 2005. Não me aprofundei nessa parte, mas acho que
era um desses programas em que as pessoas ficam isoladas ou confinadas e tem de
provar seus limites, vencer seus medos e essa besteirada toda. Além de que,
pessoalmente acho o nome do reality muito tosco. Com a bolada de um milhão de
reais, ela aproveitou o talento empreendedor e investiu pesado em ações da
bolsa, até agregar um capital razoável para começar o próprio negócio.
Resumindo: o negócio cresceu e aqui está ele, diante de mim, com seus
inexplicáveis cinco andares, e uma logomarca prateada e de muito bom gosto
anunciando o nome “TechnoCorp”.
A recepcionista, uma oriental
baixinha de pele gasta e voz fininha, me conduz ao escritório de sua patroa. Me
espanta ver que o escritório particular da dona da empresa fica logo no térreo,
contrariando os egos presunçosos da maioria dos grandes empresários, que adoram
ficar por cima.
Saudações feitas, eu me sento
numa poltrona que Aurora me aponta. Ela está radiante como uma paisagem em
pleno verão. Nem parece a mesma mulher que Milena me descreveu (“Ela está uma
fera porque ainda não dei início ao caso dela, inclusive esteja preparado
porque ela pode até não cuspir fogo contra você, Sávio, mas ela pode fazer pior”).
“Você tá confortável? Aceita um chá, um biscoitinho...?”
“Não, Srta. Souto, obrigado”, eu dispenso, ainda incrédulo com a
descrição que Milena me passou sobre ela. A mulher é um doce. “E sim, estou bem confortável”.
“Por favor, me chame de Aurora. Eu detesto formalidades”.
Ela é a cliente. Como não fazer a
vontade de uma mulher tão gentil?
“Por mim tudo bem, Aurora”, digo e sorrio. “O lugar é muito bonito. TechnoCorp. Acredito que isso venha de
´Technology Corporation´, certo? Ou ´Techonological Corporation´ talvez...”
“Vamos cortar esse papo furado, tá? Quanto custa liquidar essa paixão
que eu tô sentindo?”
A mulher me interrompeu com o
primeiro ato de brutalidade meiga que eu já testemunhei na vida. Seus olhos
continuam brilhando serenos, sua postura ereta e sem qualquer demonstração de
instabilidade emocional. Ela me pegou de surpresa. Ela é a surpresa!
“Eu... É... Eu li a sua ficha e...”, este sou eu, gaguejando
enquanto tento me recuperar do susto.
“A sua sócia me passou uma tabela de preços, e quando eu preenchi a
ficha ela ficou de me confirmar quanto sairia o preço final. Mas quer saber?”,
nesse momento ela se inclina encostando o busto sobre a mesa, dando pancadinhas
sobre ela. “Eu tô disposta a pagar o
tanto que for necessário pra acabar com isso. Qual é o seu nome?”
“Ah... Meu nome é Sávio”.
“Muito bem, Sávio. Você já sabe de quem eu estou querendo me
desapaixonar, não é mesmo?”
“Sim”, eu assinto. “Do seu
maior concorrente, Ricardo Beltrão. Ele tem uma empresa muito parecida com a
sua... a CorpoTech e...”
Nesse momento, dou-me conta da
ligeira semelhança entre os nomes, embora o nome da concorrente soe mais como
uma academia de ginástica com recursos ultra tecnológicos do que uma empresa de
segurança. Quando será que esta guerra corporativa começou?
“Exatamente”, ela confirma. “Não
sei o que há comigo, Sávio. Ontem eu passei a noite com ele de novo”.
“De novo?”, enfatizo. E sou ignorado.
Parece que estou vendo um
episódio modernizado de Game of Thrones.
Uma profusão de intrigas e paixões se desvelando diante de meus olhos e
ouvidos.
“Começarei a agir hoje mesmo, Aurora. Pode ficar tranquila”, melhor
eu dar um jeito de me ausentar, pois começo a me sentir pouco à vontade.
“Você precisa ser muito bom no que faz, Sávio. Pois eu preciso ser
arrancada dessa paixão o quanto antes. E, se possível, antes de uma semana”.
“Uma semana?! Mas, Aurora, esse prazo pode ser muito curto. Eu preciso
avaliar a complexidade da situação”.
“A complexidade”, ela se levanta enquanto fala, e eu juro que nessa
hora ela me lembra a Michelle Obama pronta para discursar, “é que eu estou miseravelmente apaixonada pelo único cara capaz de
reduzir a pó todo meu patrimônio. Um cara que, ao mesmo tempo em que eu quero
vê-lo falido e sem as calças, também adoro vê-lo sem essas mesmas calças debaixo
dos meus lençóis, depois de algumas taças de vinho e com um pouco de Maria
Betânia tocando ao fundo. Ou Marisa Monte, se as coisas estiverem re-al-men-te
quentes. Enfim, quer mais complexidade, Sávio?”
Não sei quanto tempo vai levar
até ela começar a narrar um livro erótico aqui, mas eu preciso cair fora
depressa.
“Aurora, por que você está me dando especificamente uma semana?”
“Eu não te dei uma semana. Eu disse que preciso me desapaixonar em até antes de uma semana. Você tem, no máximo, seis
dias”.
“É porque em uma semana vocês tem outro encontro? É isso?”
Ela reduz os ânimos e baixa a
cabeça, sua respiração está pausada e controlada. É, acho que eu acertei.
Alguém bate à porta. É a mesma
recepcionista que me trouxe, desta vez acompanhada por mais quatro caras, todos
bem-vestidos com seus ternos executivos e sapatos engraxados. Eu sou o mais
informal na sala.
“Podem entrar, cavalheiros”, Aurora os convida, ao mesmo passo que
dispensa a recepcionista com um aceno.
Eu não entendo por que ela os
convidou para entrar, se nem fizemos todos os acertos. Bom, é provável que este
seja o estilo de Aurora Souto. Eu faço menção de sair, mas ela intervém:
“Ainda não, Sávio”.
“Ué, eu pensei que a gente já tinha terminado...”, gesticulo para
que ela entenda que me refiro à entrada de quatro estranhos na sala. A ANNA não
trata de negócios com terceiros presentes.
“Vocês cinco, sigam-me”, ela diz, com uma autoridade
inquestionável, tomando a frente de uma pequena comitiva, na qual estou
incluído.
Aurora aperta um botão na parede,
e noto com certa surpresa que ela tem ali, em sua sala, um elevador particular.
As portas se abrem e ela entra no elevador, sinalizando para que façamos o
mesmo. E eu que não tava a fim encontrar mais um cliente desse naipe. Não hoje. O que é que dá nesse povo que tem
muito dinheiro, meu Deus do céu?
Quando o elevador para, há um
oito brilhando acima das portas.
“Esse prédio não tem só cinco andares?”, pergunto, intrigado.
“Tem três andares extras. Eles estão camuflados e não se percebe olhando
de fora”.
“Camuflados?”, algo me diz que estou me metendo em altas confusões.
E não as do tipo legais, que o narrador da Sessão
da tarde faz a gente acreditar.
As portas se abrem, revelando um
corredor não muito longo, sem janelas, que dá para uma única porta. Não sou o
único a não entender porcaria alguma aqui. Os caras recém-chegados também
trocam olhares, mas curiosamente ninguém ousa perguntar nada.
Meu celular vibra. Mensagem de
Milena: “O funeral vai começar em uma
hora. Não se esqueça de vir!”
Quando vou responder, Aurora abre
a porta única deste obscuro oitavo andar. Guardo o celular para ficar atento a
qualquer coisa que ela vai nos transmitir agora. E, então, todos entramos no
local, que parece uma sala pouco ou nada utilizada, mobiliada apenas com alguns
objetos típicos de escritório, além de um jogo de sofás, uma TV de 32 ou 40
polegadas e um frigobar.
Não sei de onde surgiram, mas há
dois brutamontes com mais de dois metros de altura, empertigados e silenciosos
como se fossem dois seguranças profissionais, parados à soleira da porta pela
qual passamos há pouco. Eles estão de terno e óculos escuros. Aurora está bem
no centro deles, enquanto os outros homens e eu estamos dentro da sala
misteriosa.
“Do que se trata isso, dona Aurora?”, indaga um dos homens de
paletó, finalmente.
“Reginaldo! Pardal! Já sabem o que fazer”, ela se dirige aos
brucutus, mesmo sem mover um ângulo sequer da cabeça.
Os dois homens, que agora posso
dizer que realmente são seguranças profissionais, se aproximam de nós cinco e
começam a revistar. Tomam nossos celulares e qualquer outro aparato que possa
nos garantir algum tipo de comunicação com o mundo lá fora. O que diabos essa
maluca está fazendo conosco?
“Aurora”, eu intervenho. “Acho
que tá rolando algum mal entendido. Só vim aqui pra fazer os acertos sobre o
nosso... negócio. E eu já tava de saída. Preciso começar logo. Você só me deu
seis dias, lembra?”
“Desculpa, Sávio. Mas você precisa provar que realmente conseguirá
fazer o trabalho”.
“Ok, você tem razão. Mas como eu vou provar se consigo fazer o
trabalho, se eu não fizer o trabalho? Agora, com a licença de todos, tô indo
embora. Aurora, pode continuar com... o que quer que seja isso, tá? Vou embora
caladinho, nem se preocupe comigo”.
Reginaldo ou Pardal se põe na
minha frente, bloqueando minha saída. Eu daria um pau nele se o sujeito não
tivesse o dobro do meu tamanho e não fosse convincentemente intimidador. Só me
resta voltar o rosto na direção de Aurora, em busca de uma explicação.
“Senhores”, ela inicia. Só não entendo por que ela não fala apenas
comigo. “Vocês terão 24 horas para provar
seu valor para aquilo que foram chamados. Encarem essa experiência como um
desafio que vai revelar sua preparação e maturidade para as missões que lhe
foram confiadas”.
“Tá de sacanagem, né?”, eu perco a paciência e indago, sem tempo
para esse tipo de gracinha. E Reginaldo (ou Pardal, sei lá... que porcaria de
apelido escroto, aliás) se põe novamente bem à mostra, para que eu saiba que
não tem ninguém de sacanagem aqui dentro.
“Amanhã”, prossegue Aurora, “precisamente
às dez e dezessete, eu virei aqui para descobrirmos... quem de vocês é o
vencedor. Boa sorte!”
“Mas meu filho está lá no carro, madame!”, protestou um dos homens,
devidamente ignorado.
“Que é isso? Eu venho aqui acertar uma coisa com a senhora e acabo na
arena dos Jogos Vorazes, é isso? Que
palhaçada é essa?”, questiona um dos outros distintos cavalheiros, rapaz
que aparenta ser mais jovem do que eu, com óculos de aro grosso e barba
recém-feita. Admiro sua coragem.
“Reginaldo!”, é só o que Aurora diz, e Reginaldo tira o garoto da
sala, conduzindo-o até o elevador, sob protestos tímidos do jovem, onde ambos
entram. O que se ouve após isso pode ser confundido facilmente com o som de
porcos se retorcendo de dor, ao mesmo tempo em que remete ao som de uma gaita
desafinada sendo tocada enquanto gatos estão travando um combate avassalador
num telhado. É perturbador.
“Menos um, senhores”, informa Aurora. “Espero que aproveitem bem as suas 24 horas e... aguardem por novas
informações. Mais uma vez, boa sorte!”
E ela sai acompanhada do Pardal,
que é quem fecha a porta e nos abandona aqui dentro.
Estamos atônitos, confusos,
horrorizados. O lugar não tem janelas, estamos sem nossos celulares, não há
como escapar daqui. Está repleto de câmeras. Vou caminhando para dar uma sacada
no ambiente, e há câmeras por toda parte. Sento-me no sofá mais próximo e,
contrariado por ter que aceitar essa condição estúpida, digo para os outros
três que estão comigo:
“Essa maldita louca colocou a gente num reality show”.
Milena estava certa. Aurora não
cuspiu fogo contra mim. Ela fez pior.
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